sexta-feira, 14 de novembro de 2008

AO PÉ DO OUVIDO


O som soa nos ouvidos como uma sinfonia, uma ventania, um barulho do trânsito, um ruído de moto ou de carro, um eco, uma discussão de casal ou gargalhadas provenientes de um bar. Diferentes do som das ondas do mar quando se chocam e são carregadas até a areia, indo e voltando numa cadência harmônica.
No silêncio da noite fica fácil registrar uma variedade de ruídos, como as vozes de uma conversa distante sem definição das palavras, um cão que late e se comunica com os outros cães, a sirene de um carro de polícia e o apito do guarda noturno que patrulha o bairro, todos inseridos numa comunicação auditiva. É fácil perceber quando alguém está próximo, chegando mais perto ou quando está indo embora, parece até que acena com uma das mãos, despedindo-se.
O barulho do telefone que toca certas horas nos irrita, mas também emociona e nos aproxima de quem está do outro lado da linha, intermediando contatos e funcionando como um medidor de voz e de comportamento.
A música tem uma diversidade de sons, às vezes estridente, ensurdecedora com ritmos compassados e acelerados eletronicamente, fazendo pulsar os ouvidos e despertando o desejo de cantar e dançar, ao contrário das músicas calmas e serenas, que se assemelham aos sons da natureza e ao canto dos pássaros, como se brotassem de uma caverna ou sobrevoassem uma montanha ou uma floresta.
A chuva, o raio e o trovão cantam como uma orquestra sinfônica, derramando água, lavando as calçadas, as cidades, as matas e os animais, desaguando nos rios e formando lagos e poças, numa cantoria agitada no início, mas que se acalma e se esvai aos poucos até silenciar.
As reações das pessoas com relação à música são surpreendentes, alguns não se contêm e independente do local onde estejam, querem extravasar, curtir, cantar e dançar, deixando invadir a alma e o corpo na mesma sintonia.
Dentro de um ônibus, no trem, no carro ou no metrô, ela, a música, nos faz companhia e na moda do Mp3, o fone de ouvido se tornou um item obrigatório e alguns cantam sem se preocupar com as críticas, arranhando um inglês incompreensível como se estivessem cantando embaixo do chuveiro. Nas ruas da cidade grande, até mesmo os engravatados aderiram essa moda, pois ao ouvir o repertório de sua preferência, sentem-se como se fossem o personagem principal de um enredo, dando movimento e ação ao cenário e ao caminho por onde passam.
É difícil resistir á música, pois algumas falam a nossa língua mesmo cantada em outro idioma e outras nos fazem pensar trazendo recordações e contando um pouco de nossa história de vida.
Numa passagem rápida pelas calçadas, observe as pessoas, os barulhos e a variedade de sons que nos enlouquecem, mas que sinalizam essa maravilha que é o poder da audição. Saiba ouvir o próximo numa conversa entre amigos, analise e comunique-se com os outros de forma saudável, pois mesmo os deficientes auditivos sabem se expressar e se comunicar.
Quando puder, permita-se extravasar, libere o corpo e a mente, pulando, cantando e dançando até cansar, ou dê uma pausa para o descanso, esparramando-se na cama ou no chão e de olhos fechados curta uma música que lhe toca o coração.
Tente ouvir o silêncio e perceba o que cada som tem a nos dizer, assim notará os outros e a si mesmo, pois como já dizia o cantor Lulu Santos: –“Nós somos feitos de silêncio e sons”.

Yrley Morato

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