sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Horário, por que te quero?



Há três anos e meio, dos cinco anos trabalhados como assistente administrativa na Center Odonto, Comércio e Assistência Técnica de Equipamentos Odontológicos, (olha o Lead aí gente ...) tento mudar uma rotina que de fato me incomoda: PARAR DE CHEGAR ATRASADA. Preferi aumentar a letra nesta frase, pois essa meta vem funcionando como um aviso constante em minha cabeça, daquele tipo que se coloca em banheiro público: “PUXAR A DESCARGA APÓS O USO” ou “NÃO JOGAR PAPEL NO VASO SANITÁRIO”.
Essa estranha mania que com certeza vem me perseguindo como um encostozinho de humor negro de 5ª (tá escutando?) insiste em me irritar.
Foram várias as medidas, vários os conselhos. Não só acordo às 6h00, o que já é um grande feito, pois não durmo antes das 2h00, como coloco a roupa do dia seguinte no cabide, na porta do guarda-roupa. Rotina de exército, que, aliás, nem gosto, mas admito que quebra um galho, aprendi com meu esposo. Outro que me irrita, tudo bem que entra mais cedo, mas mesmo assim, acho muito conveniente suas manhãs. Levanta, toma um banho, coloca sua roupinha, beija nossa filha (que ainda dorme) eu (bem gostoso) e faz um cafuné no Carlito (nosso cachorrinho) saindo todo prosa para trabalhar e quando reclamo, ainda diz:
- Pô Má! Temos obrigações diferentes. Tenta acordar mais cedo. (Que filha ... deixa pra lá, gosto da minha sogra)
Aí chega minha vez, pra lá e pra cá e querendo vencer o tempo já me atrapalho com meu próprio passo descompassado. Vou ao encontro da minha filha, dou vários beijos, ergo seu corpinho pela metade e tiro sua camisola. Coloco a parte de cima da roupa e apesar de seu olho ainda fechado, vou conversando com seu ouvido esperando que o seu subconsciente me ajude. Dou mais um tempo para ela, e novamente no meu quarto escutando o noticiário, me troco. Acabo, volto para terminar o outra troca de roupa e lá está ela, coberta novamente e ainda no 13º sono.
- Chega Ingrid, acorda!
Com um tom de voz mais firme e elevado, a frase sempre funciona como um eficaz despertador. Desperta como uma lagartixinha fazendo alongamento e toda dengosa solicita:
- Mamãe, faz tetê!
- Bom dia né, Dna. Filha! Lembro a minha patroa.
Desço correndo para cozinha, levo leves mordidinhas do meu cachorro na ponta do dedão do pé, afinal ele está querendo brincar e enquanto preparo o leite da minha senhora, tomo o meu, andando a caminho da sala, onde penteando os cabelos ela me aguarda e assiste um pouco de desenho. Até aí já são 7H15.
Pego toda a bagagem diária (material da faculdade, minha bolsa e as coisas dela) e chispo para a casa de minha mãe, parada obrigatória, antes de chegar no serviço. A casa da vovó, a dois quarteirões e meio da minha, fica distante quando minha filha não consegue acompanhar o passão da mãe aqui, que ansiosa, sabe da impossibilidade de carregá-la (são 26 kilos) ou até mesmo propor uma corrida para ver quem chega primeiro.
Finalmente chegando, já são 7h35, disponho novamente seu lanche, agora em outra geladeira. Deixo os pertences da escola devidamente separados e saio em disparada rumo ao ponto de ônibus, balançando minha outra filha, toda agitada dentro da barriga. O transporte coletivo que obedece a determinados horários vai passar umas 7h50 e contando com um trânsito muito infernal, daqueles que além de infinitos carros contam com vários adestradores, (faróis) é lógico que não vou conseguir chegar naquele que parece o inatingível horário de entrada, 8h00 da manhã.
Inacreditável! Mais uma vez chegando cansada e atrasada. E como se não bastasse, tem os comentários, os olhares de julgamento, as gracinhas sem graças do tipo: - Boa noite, Dna. Mariana! E claro, o cumprimento cordial da chefia que não acontece. Imagino os vários conceitos que formam. Preguiçosa, desorganizada, folgada ...
Só que no 5º dia útil, meu salário está todinho lá e no final das contas sobra mais consideração do que críticas. Sim, já chegaram a descontar duas vezes e no início do drama, também cheguei a tomar uma advertência. Mas hoje percebo que se tornou uma característica (pra não falar defeito) que sempre lutei para não ser a principal, e enquanto muitos, que chegaram pontualmente estão sem fazer nada até às 8h22, (minha marca) eu estou pronta para rodar. Daí, talvez a produtividade, valha mais que o arcaico cartão de ponto.
Hoje, só para constar não cheguei às 8H22, mas às 8h24.

Mariana Guedes

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