sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Em cima de duas rodas


Os ponteiros do relógio, o corta ao meio. São seis horas da tarde. Uma sexta-feira fria de agosto. Saio apressado como sempre, tomo um banho rápido, desço as escadas em disparada ao encontro da minha magrela. Lá esta ela, no fundo da garagem, pendurada e estática. Descobrir que a bicicleta é um meio de transporte funcional para uma grande cidade como São Paulo, que atualmente dispõe de um dos trânsitos mais caóticos do país.
Depois um dia inteiro de trabalho, começo com as primeiras pedaladas. Sinto a brisa gelada no rosto. Rua Estada Unidos zona sul da capital, bairro jardins. Com seus arranha céus luxuosos e mansões imponentes, os carrões importados, não respeitam a faixa de ciclistas. Alias ninguém respeita. Sou obrigado a ir pela calçada, me esquivo entre os pedestres. Logo chego na Av. Nove de Julho. Calçadas largas e bem pavimentadas. Alguns quarteirões acima preciso lançar mais energia no pedal, é o maior ponto de aclive no meu trajeto, até chegar ao túnel que leva o nome da avenida. Estreito e com apenas duas faixas, me equilibro na lateral direita, sinto uma adrenalina, e a cada pedalada frenética, lanço mais força nas pernas, procuro sair o mais rápido possível daquele sufocante e circundante paredão de concreto, que angustia pelo abafado e alto barulho do ronco dos motores dos veículos, e quando aparece a luz ao fim do túnel. Logo após a primeira curva. Dez segundos depois, ofegante. Respiro aliviado. “Ufa”. Deixo para traz o ar pesado e quente, decorrente do gás carbônico expelido por milhares de carros que ali trafegam diariamente.
A jornada continua. Agora na descida. Transito parado. Esquivo-me entre a calçada e os carros, os motoqueiros fazendo malabarismos entre um veiculo e outro, todos querem chegar ao destino o mais rápido possível. Impossível. São 6h27min. O famoso horário de pico. Tudo trava, só andam motoqueiros e ciclistas, a impaciência dos motoristas é expressa através do som de buzinas longas.
As pedaladas me aquecem. Só sinto o ar frio queimando os lábios. Aos poucos vou rompendo a região central de São Paulo. O vento traz um sinal de que o vale do Anhangabaú se aproxima. Um forte cheiro de maconha. São usuários de entorpecentes que se misturam entre transeuntes e moradores de rua que se disfarçam na imensidão do vale. Aumento a velocidade e em pouco tempo passo pela estação da luz. Avenida Tiradentes. Um frenesi de pessoas, ônibus enfileirados, pontos lotados. Parei. Subi na calçada e tendo romper a parede humana que se acotovela para tentar entrar no ônibus que já alcança seu limite de lotação.
Mais algumas pedaladas um pouco antes de cruzar a Avenida do Estado. O metrô surge das profundezas da terra, e se lança ao ar como uma montanha Russa. Decola e desliza em sua via agora aérea. Transpassa por entre os edifícios e sobre as ruas e avenidas. Destino? Sua estação final Tucuruvi, extremo norte de São Paulo.
O fim do meu percurso se aproxima. Avisto o conjunto de edifícios que comporta o Centro Universitário Sant Anna. Ao lado da Marginal Tietê, que em seus dois lados o que se vê é um tapete vermelho. Carros enfileirados estão a 10km/h. As motocicletas serpenteiam em suas laterais. Esta. Uma das mais importantes vias de acesso da quarta maior cidade de mundo. O tráfego é intenso. Acalenta o Rio Tietê que corta a cidade de leste a oeste. Tudo isso acontecendo agora, embaixo dos meus pés. Estou sobre a ponte Cruzeiro do Sul, que transcende o Rio e a Marginal. Ao meu lado, além dos carros em sentido contrário, o metrô desliza em seus trilhos suspensos. No ar, ouço o ruído de hélices de helicópteros, da o sinal de que o Campo de Marte está próximo.E neste trajeto diário, me orgulho de fazer parte deste imenso conglomerado urbano que pulsa incessante, e me leva a refletir e dizer: Aqui! O mundo acontece.

Por
André Andrade

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